Professor da UFF declara 'apoio total' aos organizadores de festa polêmica

03/06/2014 18:02

"É coisa séria e deve ser respeitada" disse ele em rede social. Testemunhas e funcionários da UFF foram intimados a depor da PF.

Do G1 / Foto: Reprodução - Facebook

Professor se pronunciou em rede social (Foto: Reprodução / Facebook)

Após muita polêmica em torno do evento intitulado “Xereca Satânik”, realizado na última quarta-feira (28) no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Rio das Ostras, no interior do Rio, o professor responsável pelo Departamento de Artes e Estudos Culturais, Daniel Caetano, se pronunciou esta semana em uma rede social. No comunicado, que até a manhã desta terça-feira (3) já havia sido compartilhado mais de 770 vezes, ele disse que o evento foi uma “performance para chocar” e garantiu “apoio total aos organizadores”.

“Gente, preciso falar sério sobre um assunto que anda correndo as redes sociais - o tal evento "Xereca Satânica" ocorrido no Puro, em Rio das Ostras, promovido por alunos do curso de Produção Cultural dentro da programação de uma disciplina cujo tema era ‘Corpo e resistência’. (...) Após um dia de apresentação de seminários e muitas discussões (testemunhei isso, vi a sala lotada), os alunos promoveram uma performance, realizada por um coletivo que se dispôs a vir de MG apenas para isso. É um coletivo que está habituado a fazer performances como a que aconteceu, feitas para chocar a sensibilidade das pessoas e fazê-las pensar sobre seus próprios limites (infelizmente não pude estar presente)”, iniciava o texto.

A festa gerou muita polêmica porque o convite na internet falava da realização de “orgia, drogas e ritual satânico”. Durante a festa, a genitália de uma mulher teria sido costurada. Um crânio humano também foi usado.

“Infelizmente, há pessoas que acreditam que o mundo deve ser moldado à sua imagem e semelhança, sem permitir qualquer espécie de desvio do padrão ou mesmo qualquer espécie de afronta à sua sensibilidade confortável, conformista e preguiçosa. A costura de partes do corpo, inclusive da região genital, não é novidade para qualquer pessoa que tenha lido mais de um parágrafo sobre arte contemporânea posterior aos anos 1970. Sugiro a quem quiser saber mais sobre o assunto que pesquise os trabalhos de pessoas como Marina Abramovic e Lydia Lunch. A performance tinha como um dos objetivos denunciar a constante violência contra mulheres na cidade de Rio das Ostras, onde as ocorrências de estupros estão entre as maiores do país. O caso é que foram feitas e divulgadas fotos do evento - o que deu a ele uma dimensão política e social que vai muito além dos muros do Pólo, tornando-se tema de blogs sensacionalistas e da imprensa marrom. Estando atualmente na função de chefe do departamento em que esse evento foi promovido, afirmo para quem for necessário que damos apoio total aos promotores do evento, realizado dentro de uma perspectiva acadêmica, a partir de discussões ocorridas nas aulas de uma disciplina. É coisa séria e deve ser respeitada”, afirmou o professor.

Festa na UFF de Rio das Ostras (Foto: Reprodução/Rede social)Na segunda-feira (2) a Polícia Federal fez uma diligência no campus. Segundo o delegado Júlio César Ribeiro, os peritos constataram que o local onde houve a festa havia sido lavado e nenhuma prova foi colhida. Mesmo assim, testemunhas e funcionários da universidade foram intimados a depor, na próxima quinta-feira (5) pela manhã. O objetivo, segundo o delegado, é saber se alguma verba pública foi utilizada na realização das atividades ou se algum crime foi cometido. O inquérito deve ser concluído em um prazo de 30 dias.

O professor Daniel Caetano defendeu que nenhuma irregularidade foi cometida no evento.

“E, finalmente, embora não tenham sido feitos "rituais satânicos" e o título do evento fosse essencialmente provocativo (ao contrário do que o jornalismo marrom afirmou), precisamos dizer que não haverá de nossa parte qualquer censura a atos do gênero. A universidade pública é LAICA, como todo o estado brasileiro. Todos os representantes públicos devem defender o laicismo - caso contrário, cometem o crime de prevaricação. A laicidade assegura a qualquer manifestação religiosa o mesmo grau de respeitabilidade: sejam missas católicas, evangélicas, judaicas, budistas ou satânicas”, disse ainda o texto do professor Daniel Caetano.

Alana Vilela é aluna do curso de Enfermagem. Ela contou que como mulher se sentiu ofendida pelas 'performance' apresentada pelo grupo e apoiada pelo professor. 

"É uma afronta total. Moro no dormitório do campus e me senti constrangida e coagida. A mulher se quer o respeito não pode passar por situações como essas e ser denomiada como vadia", comentou a aluna. 

A reitoria da UFF marcou uma reunião para a manhã desta quarta-feira (4) para discutir o assunto.