Macabu no embalo das serestas

Em Conceição de Macabu, uma tradição mantida desde o início do século passado, vem atraindo centenas de visitantes de várias partes do Estado. Esta tradição, marcada por saudosismo e celebrada com grande festa, é a seresta, ritmo musical contagiante que já embalou a vida de milhões de pessoas no Brasil.
E na cidade macabuense, deste grupo de amigos, nasceu a Associação de Seresteiros de Conceição de Macabu (Assecom), com o objetivo de não deixar esta tradição morrer. Todas as sextas-feiras, às 20 horas, eles se reúnem na Casa de Seresta, onde eles recebem músicos convidados, relembram histórias e eternos sucessos e também promovem a integração da música em diferentes gerações.
A tradição da seresta em Macabu veio desde a década de 1910, com Wilson José Tavares, conhecido como "Suíço" (eternizado como o patrono do grupo), Chico Gordo e José dos Santos. A Associação, devidamente legalizada, é presidida atualmente pelo advogado macabuense Atilano Rocha, ex-presidente da 15ª Seção da OAB/Macaé.
"A tradição da seresta em Conceição de Macabu é muito antiga, vem lá do início do século passado. E para não deixar esta tradição se acabar, resolvemos criar a associação e tirar um proveito turístico nisto. Por que não fazer de Conceição de Macabu um pólo atrativo de seresteiros da região?", afirmou Jorge Leandro, um dos membros do grupo.
Entretanto, mesmo preservando viva a memória das cantorias, Jorge lembra com saudosismo do passado. "Hoje as ruas são de asfalto, com carros passando em alta velocidade, as janelas não ficam mais abertas e tem a lei do silêncio. As serestas e serenatas, certamente, não dariam certo nos dias de hoje. Só aqui na casa", brincou.
"Antigamente, nós fazíamos as serestas e serenatas nas janelas das namoradas ou como uma maneira de homenagear as famílias. Hoje, se fizermos isto, nos tacam pedra e água", brincou João Machado, um dos membros do grupo.
A criação da Casa dos Seresteiros, área doada pelo ex-prefeito Cláudio Linhares, aconteceu em 28 de dezembro de 2000. Em 2002, mais precisamente no dia 16 de março, a casa recebeu a ilustre visita da cantora Ângela Maria, que é nascida em Conceição de Macabu.
Na casa de seresta, os músicos da associação também formam um grupo, o "Lua Cheia", que leva a seresta para várias partes da região. Deste grupo, fazem parte Humberto, Bebeto, Bahiano, Machado, Roberto Bessa, Jorge Leandro, entre muitos outros. Dali também foi formado o grupo de choro, que recentemente se apresentou em Santa Maria Madalena.
Dentro da casa, os membros produziram um "Museu da Seresta", formado com itens que fizeram parte da história macabuense. Dentre estes itens, estão fotografias, registros fonográficos e em textos, instrumentos musicais, diplomas e troféus. Um destes instrumentos que faz parte do acervo é um cavaquinho, que pertenceu a Mário Machado, seresteiro que faleceu em 2004, aos 87 anos. "O Mário vivia tocando e encantando aqueles que os viam", lembrou seu filho João Machado, que hoje é um dos percussionistas do grupo.
A tradição do grupo já ultrapassou as barreiras do município, recebendo convites para se apresentar em diversos eventos, tanto que, nas últimas semanas, o grupo se apresentou em Macaé na Rinha das Artes.
A associação também é a responsável por organizar um dos eventos mais conhecidos da região, o Encontro de Seresteiros, que começou em 2001, com poucas pessoas, e hoje recebe mais de 500 visitantes por edição. "O Encontro acabou ganhando um caráter estadual, já que vem músicos de todos os lados para se apresentar aqui. Este ano, teve gente que veio de São Paulo, só para conhecer este trabalho feito pela associação", afirmou Humberto Schwartz, secretário da Assecom. O Encontro acontece anualmente, no último final de semana de julho.
Humberto aproveitou a visita da equipe de reportagem para deixar um convite à sociedade macabuense e de municípios vizinhos. "Esperamos com grande prazer a visita de pessoas de todas as cidades, todas as sextas-feiras, para que eles possam conhecer um pouco mais sobre esta tradição tão honrosa de Conceição de Macabu", destacou.
A Casa de Seresta funciona na Rua Antônio Lopes de Oliveira, sem número, no Centro (ao lado da Casa de Cultura Professor Adelino).

Fonte: Expresso Regional